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                                             *Cena do Filme do Francisco Manso e João Corrêa, Aristisdes de Sousa Mendes                                                                                                                                        Cônsul de Bordéus

                                                                                                  Sarah Kruger. 2012

 

 

 

 

 

 1-Com que idade surgiu o teu encanto pela representação?

 

Desde que tive consciência que gostava de brincar ao faz de conta.  A primeira vez que verbalizei  a minha vontade de ser actriz foi aos 14 anos.

 

 

2- Quais as Interpretações que mais te marcaram? Porquê?

 

No cinema, a Noémia do Espelho Mágico pela admiração profunda que tenho pelo trabalho do Manoel de Oliveira, a sua matemática poética, o discurso filosófico dos seus filmes. E a Sarah Kruger do filme do Francisco Manso, O Cônsul de Bordéus. Um filme justo e necessário sobre uma das figuras mais admiráveis do nosso país, o Aristides Sousa Mendes, uma voz de resistência num dos episódios mais vergonhosos da humanidade.A Sarah Kruger existiu na realidade, fez parte dos que resistiram, foi um privilégio dar-lhe a minha voz. No teatro, as personagens da peça Os Assassinos, encenada pelo Bruno Bravo e da peça Faz Escuro nos Olhos, encenada pelo Rogério de Carvalho. Em ambos os casos pelo método de trabalho dos encenadores e o discurso lúcido destas personagens. Na televisão, a Nicha, da Lenda da Garça, que foi o meu primeiro trabalho enquanto actriz, tudo era aprendizagem. E claro a minha querida Antónia Félix da recente série da TVI, Massa Fresca, a primeira vilã que tive o prazer de interpretar. 

 

 

3- De todas as tuas personagens, qual delas é que achas que teve mais alcance do público? Porquê?

 

Creio que a Antónia Félix, a televisão chega a muitos, a um público em maior escala. Tenho uma lembrança já com alguns anos e muito bonita: a propósito da Maria Parda que fiz em teatro. Creio que teria 23 ou 24 anos. A de ter recebido cartas de pessoas, público, que acompanhavam o percurso do TEP, e que referiam a Maria Parda anos depois de a ter feito. Isso é muito forte.

 

 

4- És muito acarinhada pelo público, queres contar algum episódio

"engraçado" que tenhas passado com algum fã?

 

Gosto de ler esta tua pergunta. Fico feliz com tanto carinho e aproveito para agradecer as mensagens lindíssimas que recebo e os grupos de fãs que criaram. Tenho um episódio engraçado que se passou no início deste ano lectivo numa das escola onde leciono. Estávamos no salão nobre, no primeiro dia de aulas, na apresentação formal do curso e do corpo docente, e, de repente, ouço uma voz a dizer bem alto e com um tom um tanto preocupado, mais ou menos o seguinte: "Ai, está ali a Antónia. O que ela está aqui a fazer? Ai, é a Antónia. É a Antónia, é! O que é que se está aqui a passar?! ". Bem, a apresentação parou e foi a risada total. 

 

 

5- Sei que tens um carinho especial pela tua personagem "Antónia", a grande Lady Boss! O que me tens a contar acerca deste projeto? Fala-me também sobre o ambiente e a equipa em estúdios.

 

Um grande carinho. Gosto de personagens com carácter forte. A Lady Boss (risos) reúne duas dimensões  que nuca tinha tido o prazer de trabalhar: ser a vilã e sofrer de um transtorno psicológico forte. E a transformação do aspecto da personagem ao longo da série foi um presente maravilhoso. Do aspecto e do comportamento. Foi um grande desafio  interpretar o que está eticamente errado.  Tive situações em que ficava indignada e incomodada depois de gravar. E outras situações, como nas festas populares, de me interpelarem, na rua, com o intuito de me convencerem a parar de fazer maldades e ouvir comentários como "o seu filho é tão querido, deixo-o lá namorar com a moça, coitado. Não sei como é que tem coragem, é mesmo má." Acho que o grande carinho que tenho pela Antónia vem de algo que não consigo dissociar das ditas personagens: a equipa de trabalho. Os colegas com quem trabalhei na Massa Fresca, em qualquer das frentes: actores, técnicos, produção, caracterização, guarda-roupa, guionistas, realização, coordenação e, claro, direção de actores estavam tão envolvidos, quase como se a Massa Fresca fosse um bebé a crescer e a precisar de toda a nossa atenção.Uma equipa maravilhosa. 

Isso reflectiu-se na resposta do público. Recebemos um prémio de melhor série. Estamos todos de parabéns. Fazer televisão não é fácil, é um contra relógio constante, mas a sintonia foi grande e muito bonita.  Fiz amigos!

 

 

6- Em 2017, irá estrear um filme português do qual tu fizeste parte, "De repente,a vida" , será que já me podes adiantar algo sobre o assunto? Falar um pouco da tua "Estela"? 

 

Vão estrear três filmes em que participei no próximo ano: Uma vida Sublime do Luís Diogo, com um argumento forte, que desperta até os mortos. (risos) Um outro filme será Imagens Proibidas do Hugo Diogo, que gostei bastante de fazer. Parte de um livro (Saudades de Nova Iorque) de um dos autores da minha juventude, o Pedro Paixão e estes encontros são sempre especiais. Isto lembra-me do entusiasmo que senti há uns anos quando participei no Triângulo Jota e Uma Aventura, foram livros que percorreram a minha infância.  As gravações do filme "De repente a Vida" ainda não terminaram. É um filme do Hugo Albuquerque que nos mostra a vida social de uma família portuguesa muito peculiar, é uma comédia - é a primeira vez que faço comédia em cinema - e a Estela é deliciosamente louca, enredada em delírios amorosos. 

 

 

7- Tu talvez não saibas, mas eu sei, tu és heroína de alguém. Recentemente começaste a ser uma grande referência e um grande orgulho. Como te sentes ao saber que fazes tanto bem a alguém?

 

Ser uma referência para alguém é um duplo lugar, de responsabilidade e contentamento.

 

 

8- Geralmente o público tem tendência a pensar que a vossa vida é a melhor e não tem tanta preocupação, mas ambas sabemos que não é assim! Quando te encontras triste o que fazes para fugir a isso?

 

Só um público muito desatento pensaria assim, não creio que seja o caso do público português.  Seguir a via artística como modo de vida é difícil num país pequeno, com poucos recursos e com um mercado pequeno. Há uma grande instabilidade que poderá significar passar temporadas sem trabalho. Quanto às gravações para a ficção, em televisão são várias horas de trabalho. Existem alturas em que chegas ao estúdio às 8 da manhã, sais muitas vezes às 7 da tarde e segues para casa decorar texto para o dia seguinte. Acrescenta-lhe o trânsito e as horas de sono...Mas quando gostas mesmo do que fazes e o que fazes é dar voz a um discurso, é contar histórias, é inquietar e é brincar também, é comunicar, - e eu acho que foi o teatro que me ensinou a falar e a ouvir - acontece algo que toca o insondável, parece que o dia cresce, o cansaço está lá mas o dia foi um dia maior. Mas respondendo à tua pergunta, quando me encontro menos contente vou ter com o mar, ouço Bach e levo comigo García Márquez.

 

 

9- O que é que mais te assusta nesta vida?

 

O medo.

 

 

10- Se a tua vida fosse um filme qual seria? Porquê?

 

Seria o meu, em perpétuo movimento, em constante construção  com pedaços que me fazem lembrar filmes de outros, o que é natural, somos todos feitos da mesma massa, medo e sonho. O que difere é o grau, o modo e a vontade.

 

 

11- Um bom relaxamento para ti é?

 

Dormir muito bem.

 

 

12- Como seria o teu lugar de sonho? E com quem o partilhavas? 

 

Teria que ter água, mar. Com quem? Isso é segredo.

 

 

13- Quais são os teus desejos para 2017?

 

Dias felizes e muita harmonia.

Blog: http://famatopoficial.blogspot.pt/2016/12/entrevista-susana-sa.html

Criado e gerido por : Beatriz Pires / @Susana_Sa14

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